Sinopse: Enquanto tenta escapar desta paisagem inóspita, Arlen é capturada por um grupo de canibais selvagens liderados pelo misterioso Miami Man (Jason Momoa). Com a sua vida em risco, ela parte em busca de The Dream (Keanu Reeves), À medida que Arlen se habitua à vida nesta terra sem lei, ela vai descobrir que a propriedade de ser bom ou mau é algo que depende de quem se tem ao lado.
Até aí parece mais um daqueles filmes bobos e repetitivos sobre vingança, mas não se engane, o filme é isso e um pouco (bem pouquinho) mais. O filme ainda conta com críticas sociais no que se refere ao “pão e circo”, hedonismo exacerbado, usado pelo todo poderoso que controla a comunidade, que é movida por “sonhos” artificiais melhores do que a desgraça real que se encontram. O filme ainda nos faz pensar um pouco sobre “o comer carne” afinal, é uma necessidade insubstituível? Ou comemos apenas por prazer?
No geral, os dois grupos opostos apresentados no longa podem ser divididos da seguinte maneira: De um lado temos os canibais cuja a dura escassez da brutal realidade que se encontram, são forçados a comerem carne humana. Já o outro grupo são “os sonhadores”, uma comunidade formada em um local chamado “Confort”. O lema da comunidade é “O sonho está em você”; toda noite eles se entorpecem de drogas psicodélicas afim de abandonar por uma noite aquela realidade miserável. Enquanto um grupo está preso a essa realidade lutando pela sobrevivência, o outro abdica dessa realidade para viver um sonho. Esses dois grupos têm algo em comum: ambos são compostos de pessoas abandonadas pela sociedade. O que o filme dá a entender é que essas são pessoas criminosas que não se encaixam no constructo social, e como punição, foram largadas nesse ambiente seco e hostil.
Assim, o título original “The Bad Batch” faz todo o sentindo já que pode ser traduzido literalmente como “O Pacote ruim, ou também como “Remessa ruim”, uma analogia aos indivíduos como sendo eles mesmos os produtos da própria sociedade em que estão inseridos, e como eles não se encaixaram na dinâmica social e foram banidos, descartados, são portanto “os pacotes ruins”, “os pacotes estragados”, produtos defeituosos que são identificados, marcados, separados e isolados em grupos de outros produtos defeituosos jogados em um grande terreno.
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| A diretora Ana Lily Amirpour |
The Bad Batch (2017) é a primeira grande produção da jovem diretora Ana Lily Amirpour. (antes ela tinha feito apenas “Garota Sombria Caminha Pela Noite” lançado em 2014. Agora, depois de The Bad Batch, Ana Lily Amirpour dirigiu também um episódio na segunda temporada da excelente e psicodélica série “Legion” (2017) e também dirigiu um episódio de The Twilight Zone (2019), série antológica clássica de ficção que foi agora em 2019 repaginada e produzida por Jordan Peele.
Anteriormente minha pretensão nesse texto não era inicialmente escrever uma resenha sobre The Bad Batch, eu estava pensando em escrever uma série de textos sobre as mulheres no cinema, especificamente diretoras. A primeira mulher que eu queria escrever era justamente Ana Lily, mas como ela ainda possui poucos trabalhos e também pela falta de informações sobre ela na internet deixei de ter ela como foco principal nesse texto, mas não desisti de falar sobre essa mulher (já que assisti todo o seu trabalho até agora) quero aos poucos escrever sobre suas obras e sua maneira de fazer um filme.
O que deve ter frustrado muita gente é que inicialmente o filme foi vendido como um “Romance Canibal”, vemos isso até no título que o filme recebeu no Brasil “Amores Canibais”, título muito ruim por sinal. Não há romance propriamente dito no filme. O que há é vingança e dialogos críticos e metafóricos acerca do social e do animal humano. Necessidade de um lado, hedonismo escapista do outro.
É UM FILME QUE MERECE SER SIM ASSISTIDO!
Pode parecer ser uma tarefa difícil assistir a esse filme, admito, não é pra todos os gostos. A história em geral amarrada de uma maneira não convencional também pode se mostrar cansativa. Esse é um filme pra quem curte elementos do cinema independente dessa década. Esse filme dá uma aula de tecnica visual e de como (não) conduzir uma história.
Afinal, sempre haverá coisas boas em filmes ruins.
Ana Lily Amirpour ainda tem muito a oferecer, e sim, estamos de olho.




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